segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Da pintura rupestre a Fotografia


A descoberta da fotografia não aconteceu como muitos poderiam pensar de uma hora para outra. Como veremos mais adiante, a busca do meio fotográfico levou centenas de anos para se concretizar. A verdade é que o desejo da fotografia ou alguma coisa semelhante parece ser intrínseco ao homem - um instinto quase-. O desenho e a pintura na sua forma mais básica não são nem mais nem menos, do que manifestações do grande desejo de RETRATAR O MUNDO que todos nós possuímos desde a infância e que é comum tanto nos primitivos quanto nos civilizados. Historicamente, sabemos que mesmo antes de existir a escrita, os primitivos já se comunicavam por meio de desenhos, pois a imagem precede a palavra escrita na ordem evolutiva da linguagem. Mesmo depois que a escrita evoluiu, tanto o desenho como a pintura e outros meios de comunicação visuais continuaram a ter enorme importância no processo cultural e civilizatório. Mesmo com o florescimento da literatura e das artes representativas, a busca de um processo mais perfeito e mais realista de registrar o mundo continuou sendo insistentemente procurado através dos tempos. Isto se deve ao fato de que as imagens comunicam em níveis diferentes aos da palavra seja ela escrita ou falada. Mas é verdade também que tanto a pintura quanto o desenho ou a gravura não conseguiam satisfazer a vontade de muitos artistas de retratar o mundo com o maior realismo possível. O fato é que enquanto não existiu a fotografia muitas – muitíssimas pessoas - estavam insatisfeitas com o que se podia fazer com o desenho e a pintura em matéria de REALISMO.
A fotografia representa o detalhe, a minúcia, a perspectiva, a luz, o momento fugaz, a espontaneidade, e a velocidade que muitos procuravam, mas não conseguiam por outros meios. Não é de hoje a afirmação que a invenção da fotografia LIBERTOU a pintura para encontrar a sua verdadeira vocação expressiva. Poderíamos até afirmar que do ponto de vista de um determinismo histórico, a humanidade estava fadada a descobrir a fotografia ou alguma coisa semelhante porque não desistiria dessa busca até chegar ao que procurava. É necessário deixarmos claro que não se trata de fazer uma comparação qualitativa entre a fotografia e as outras artes visuais. Mesmo assim, não pode restar dúvida que a fotografia se fazia necessária entre elas e que o lugar que conquistou em nossa civilização é muito especial. Nas próximas páginas iremos ver como foi a evolução da busca deste meio até hoje insuperado de registrar imagens de incrível perfeição e realismo e sem o qual a nossa cultura seria inteiramente outra.

Fotografia de Pintura Rupestre nas cavernas de Jataí, Goiás.
Estima-se que algumas destas imagens tenham mais de onze mil anos.
Poderíamos refletir de como seria difícil fazer uma descrição precisa destes
desenhos se não existisse a fotografia para nos mostrar como são.
Foto: Vanessa F.M. Harrell , 1998

domingo, 16 de outubro de 2011

A câmera escura, o princípio da fotografia.


É muito difícil precisar as datas e etapas dos processos que levaram à criação da Fotografia, pois muitos deles são experiências conhecidas pelo homem desde a Antigüidade, e acrescenta-se a isso um conjunto de cientistas em diversas épocas e lugares que aos poucos foram descobrindo as partes deste intrincado quebra-cabeças, que somente no final do séc. XIX foi inteiramente montado.
Entretanto, é possível apontar alguns destes fatos e descobertas como sendo relevantes para a invenção da fotografia.
Os fundamentos daquilo que veio a se chamar fotografia vieram de dois princípios básicos, já conhecidos do homem há muito tempo, mas que tiveram que esperar muito tempo para se manifestar satisfatoriamente em conjunto, que são: a câmara escura e a existência de materiais fotossensíveis.


1. A CÂMARA ESCURA: O PRINCÍPIO DA FOTOGRAFIA

A fotografia não tem um único inventor, ela é uma síntese de várias observações e inventos em momentos distintos. A primeira descoberta importante para a fotografia foi a Câmara Escura. O conhecimento do seu princípio ótico é atribuído, por alguns historiadores, ao chinês Mo Tzu no século V a.C., outros indicam o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) como o responsável pelos primeiros comentários esquemáticos da Câmera Obscura.
Sentado sob uma árvore, Aristóteles observou a imagem do sol, em um eclipse parcial, projetando-se no solo em forma de meia lua ao passar seus raios por um pequeno orifício entre as folhas de um plátano. Observou também que quanto menor fosse o orifício, mais nítida era a imagem.






2. A LUZ - ONDE TUDO COMEÇA
Para que possamos compreender esse fenômeno da câmara escura, é necessário conhecer algumas propriedades físicas da luz. A luz é uma forma de energia eletromagnética que se propaga em linha reta a partir de uma fonte luminosa. Quando um desses raios luminosos incide sobre um objeto, que possui superfície irregular ou opaca é refletido de um modo difuso, isto é, em todas as direções.
O orifício da câmera escura, quando diante desse objeto, deixara passar para o interior alguns desses raios que irão se projetar na parede branca. E como cada ponto iluminado do objeto reflete os raios de luz desse modo, temos então uma projeção da sua imagem, só que de forma invertida e de cabeça para baixo.

 

Como cada ponto do objeto corresponde a um disco luminoso, a imagem formada possui pouca nitidez, e a partir do momento em que se substitui a parede branca pelo pergaminho de desenho, essa falta de definição passou a ser um grande problema aos artistas que pretendiam usar a câmera escura na pintura.
Séculos de ignorância e superstição ocuparam a Europa, sendo os conhecimentos gregos resguardados no oriente. Um erudito árabe, Ibn al Haitam (965-1038), o Alhazem, observa um eclipse solar com a câmara escura, na Corte de Constantinopla, em princípios do século XI.
Nos séculos seguintes a Câmara Escura se torna comum entre os sábios europeus, para a observação de eclipses solares, sem prejudicar os olhos. Entre eles o inglês Roger Bacon (1214-1294) e o erudito hebreu Levi ben Gershon (1288-1344). Em 1521, Cesare Cesariano, discípulo de Leonardo da Vinci, descreve a Câmara Escura em uma anotação e em 1545, surge a primeira ilustração da Câmara Escura, na obra de Reiner Gemma Frisius, físico e matemático holandês.

Gravura datada de 24 de Janeiro de 1545 com a inscrição: Solis Designium (Desenho do Sol) demonstrando o principio da Câmara Escura de Orificio.


No século XIV já se aconselhava o uso da câmara escura como auxílio ao desenho e à pintura. Leonardo da Vinci (1452-1519) fez uma descrição da câmara escura em seu livro de notas sobre os espelhos, mas não foi publicado até 1797. Giovanni Baptista della Porta (1541-1615), cientista napolitano, em 1558 publicou uma descrição detalhada sobre a câmera e seus usos no livro Magia Naturalis sive de Miraculis Rerum Naturalium. Esta câmara era um quarto estanque à luz, possuía um orifício de um lado e a parede à sua frente pintada de branco. Quando um objeto era posto diante do orifício, do lado de fora do compartimento, a sua imagem era projetada invertida sobre a parede branca.
Em 1620, o astrônomo Johannes Kepler utilizou uma Câmara Escura para desenhos topográficos. O jesuita Athanasius Kircher, erudito professor de Roma, descreveu e ilustrou uma Câmara Escura em 1646, que possibilitava ao artista desenhar em vários locais, transportada como uma liteira e em 1685, Johan Zahn descreve a utilização de um espelho, para redirecionar a imagem ao plano horizontal, facilitando assim o desenho nas câmaras portáteis.


3. QUANTO MENOR O ORIFÍCIO MELHOR A NITIDEZ DA IMAGEM, MAS...

Alguns, na tentativa de melhorar a qualidade da imagem, diminuíam o tamanho do orifício, mas a imagem escurecia proporcionalmente, tornando-se quase impossível ao artista identificá-la. Este problema foi resolvido em 1550 pelo físico milanês Girolano Cardano, que sugeriu o uso da lente biconvexa junto ao orifício, permitindo desse modo aumentá-lo, para se obter uma imagem clara sem perder sua nitidez. Isto foi possível, graças à capacidade de refração do vidro, que torna convergentes os raios luminosos refletidos pelo objeto; assim, alente fazia com que para cada ponto luminoso do objeto correspondesse a um ponto na imagem, formando-se ponto por ponto da luz refletida do objeto uma imagem puntiforme.
Desse modo o uso da câmera escura se difundiu entre os artistas e intelectuais da época, que logo perceberam a impossibilidade de se obter nitidamente a imagem quando os objetos captados pelo visor estivessem a diferentes distâncias da lente. Ou se focalizava o objeto mais próximo, variando a distância lente/visor (foco), deixando o mais distante desfocado ou vice versa. O veneziano Danielo Barbaro, em 1568, no seu livro "A prática da Perspectiva" mencionava que variando o diâmetro do orifício, era possível melhorar a nitidez da imagem. Assim outro aprimoramento na câmera escura apareceu: foi instalado um sistema junto com a lente que permitia aumentar e diminuir o orifício. Este foi o primeiro diafragma. Quanto mais fechado o orifício, maior era a possibilidade de focalizar dois objetos à distâncias diferentes da lente.


Em 1573, o astrônomo e matemático florentino Egnatio Danti, em La perspecttiva di Euclide, sugere outro aperfeiçoamento: a utilização de um espelho côncavo para reverter a imagem. Em 1580, Friedrich Risner descreve uma câmara escura portátil, mas a publicação só foi feita após a sua morte, na obra Optics de 1606. A tenda utilizada por Johann Kepler, para seus desenhos topográficos, utilizada em sua viagem de inspeção pela Alta Áustria, utilizava uma lente biconvexa e um espelho, para obter uma imagem no tabuleiro de desenho no interior da tenda, em 1620.
Em 1636, o professor de matemática da Universidade de Altdorf, Daniel Schwenter, em sua obra Deliciae physico-mathematicae, descreve um elaborado sistema de lentes que combinavam três distancias focais diferentes. Este sistema foi usado por Hans Hauer em sua panorâmica de Nuremberg. Athanasius Kircher em 1646, descreve sua câmara escura em forma de liteira, ilustradamente no Ars Magna lucis et umbrae e seu discípulo Kaspar Schott, professor de matemática em Wüzburgo, nota que não era necessário o artista se introduzir dentro da câmara escura; na obra Magia Optica de 1657, Schott menciona que um viajante vindo da Espanha descrevera uma câmara escura que podia ser levada sob seu braço.
Em 1665, Antonio Canaletto (1697 - 1768) utiliza uma câmara escura dotada de um sistema de lentes intercambiáveis como meio auxiliar de desenhos de vistas panorâmicas.
Em 1676, Johann Christoph Sturm, professor de matemática de Altdorf, em sua obra Collegium Experimentale sive curiosum, descreve e ilustra uma câmara escura que utilizava interiormente um espelho a 45 graus, que refletia a luz vinda da lente para um pergaminho azeitado colocado horizontalmente e uma carapuça de pano preto exterior funcionando como um parasol para melhorar a qualidade da visualização da imagem. Johann Zhan, monge de Wüzburgo, ilustrou em sua obra Oculos Artificialis teledioptricus (1685-1686), vários tipos de câmaras portáteis como o tipo reflex que possuia 23 cm de altura e 60 cm de largura.

 Câmara escura com objetiva, espelho e vidro despolido. Esta câmara data de 1820 e estava exposta no Museu da Imagem e do Som.
O design desta câmara imita o mesmo desenho que seria utilizado mais tarde em câmeras reflex.


Nesta altura já tínhamos condições de formar uma imagem satisfatoriamente controlável na câmera escura, mas gravar essa imagem diretamente sobre o papel sem intermédio do desenhista foi a nova meta, só alcançada com o desenvolvimento da química. Shulze não tinha certeza quanto à utilidade prática de sua invenção, mas observou "Não tenho qualquer dúvida de que esta experiência poderá revelar ainda outras utilidades de aplicações aos naturalistas" profetizou o pai da fotoquímica.
Em 1790, o físico Charles realizou impressões de silhuetas em folhas impregnadas de cloreto de prata.

sábado, 15 de outubro de 2011

A Química em auxílio à fotografia


Em 1604, o cientista italiano Ângelo Sala, observa que um certo composto de prata se escurecia quando exposto ao sol. Acreditava-se que o calor era o responsável. Anos antes, o alquimista Fabrício tinha feito as mesmas observações com o cloreto de prata.
Em 1727, o professor de anatomia Johann Heinrich Schulze, da universidade alemã de Altdorf, notou que um vidro que continha ácido nítrico, prata e gesso se escurecia quando exposto à luz proveniente da janela. Por eliminação, ele demonstrou que os cristais de prata halógena ao receberem luz, e não o calor como se supunha, se transformavam em prata metálica negra. Sua intenção com essas pesquisas era a fabricação artificial de pedras luminosas de fósforo, como ele as denominava. Como suas observações foram acidentais e não tinham utilidade prática na época, Schulze cedeu suas descobertas à Academia Imperial de Aldorf, em Nürenberg, na apresentação intitulada "De como descobri o portador da Escuridão ao tentar descobrir o portador da Luz".


 Foto: Johann Heinrich Schulze



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Gravando imagens com a câmara escura


As experiências de Wedgwood

Em 1802, Sir Humphrey Davy publicou no Journal of the Royal Instiution uma descrição do êxito de Thomas Wedgwood, na impressão de silhuetas de folhas e vegetais sobre couro. Thomas, filho mais moço de Josiah Wedgwood, o famoso cientista amador e ceramista inglês, estando familiarizado com o processo de Schulze, obteve essas imagens mediante a ação da luz sobre o couro branco impregnado de nitrato de prata. Mas Wedgwood não conseguiu "fixar" as imagens, isto é, eliminar o nitrato de prata que não havia sido transformado em prata metálica, pois apesar de bem lavadas e envernizadas, elas se escureciam totalmente quando expostas a luz. Tom Wedgwood aprendera com o pai Josiah, a utilizar a câmara escura para auxiliar seus desenhos de grandes casas de campo que decorava as cerâmicas da Etruria, mas o conhecimento da sensibilidade do nitrato de prata veio através do seu tutor Alexander Chisholm, que tinha sido ajudante do químico Dr. Willian Lewis, primeiro a publicar em 1763, as investigações de Schulze. No entanto, Thomas não chegou a obter imagens impressas com auxílio da Câmera escura devido à sua prematura morte aos 34 anos.
Em 1777, o químico Karl Wilhelm Scheele descobre que o amoníaco atua satisfatoriamente como fixador.


A heliografia de Niépce

Em 1793, junto com o seu irmão Claude, oficial da marinha francesa, Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) tenta obter imagens gravadas quimicamente com a câmara escura, durante uma temporada em Cagliari. Aos 40 anos, Niépce se retirou do exército francês para dedicar-se a inventos técnicos, graças à fortuna que sua família havia realizado com a revolução. Nesta época, a litografia era muito popular na França, e como Niépce não tinha habilidade para o desenho, tentou obter através da câmera escura uma imagem permanente sobre o material litográfico de imprensa. Recobriu um papel com cloreto de prata e expôs durante várias horas na câmera escura, obtendo uma fraca imagem parcialmente fixadas com ácido nítrico. Como essas imagens eram em negativo e Niépce pelo contrário, queria imagens positivas que pudessem ser utilizadas como placa de impressão, determinou-se a realizar novas tentativas.
Após alguns anos, Niépce recobriu uma placa de estanho com betume branco da Judéia que tinha a propriedade de se endurecer quando atingido pela luz. Nas partes não afetadas, o betume era retirado com uma solução de essência de alfazema. Em 1826, expondo uma dessas placas durante aproximadamente 8 horas na sua câmera escura fabricada pelo ótico parisiense Chevalier, conseguiu uma imagem do quintal de sua casa. Apesar desta imagem não conter meios tons e não servir para a litografia, todas as autoridades na matéria a consideram como "a primeira fotografia permanente do mundo". Esse processo foi batizado por Niépce como Heliografia, gravura com a luz solar.

A primeira fotografia da história realizada por Joseph Nicéphore Niépce em 1826. O tempo de exposição foi de oito horas!
Coleção Gershheim, Humanities Research Center, University of Austin, Texas.

Em 1827, Niépce foi a Kew, perto de Londres, visitar Claude, levando consigo várias heliografias. Lá conheceu Francis Bauer, pintor botânico que de pronto reconheceu a importância do invento. Aconselhado a informar ao Rei Jorge IV e à Royal Society sobre o trabalho, Niépce, cauteloso, não descreve o processo completo, levando a Royal Society a não reconhecer o invento. De volta para a França, deixa com Bauer suas heliografias do Cardeal d'Amboise e da primeira fotografia de 1826.
Em 1829 substitui as placas de metal revestidas de prata por estanho, e escurece as sombras com vapor de iodo. Este processo foi detalhado no contrato de sociedade com Daguerre, que com estas informações pode descobrir em 1831 a sensibilidade da prata iodizada à luz. Niépce morreu em 1833 deixando sua obra nas mãos de Daguerre.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

DAGUERREOTIPIA - A fotografia começa a caminhar no tempo


Foi através dos irmãos Chevalier, famosos óticos de paris, que Niépce entrou em contato com outro entusiasta, que procurava obter imagens impressionadas quimicamente: Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851). Este, durante alguns anos, causara sensação em Paris com o seu "diorama", um espetáculo composto de enormes painéis translúcidos, pintados por intermédio da câmera escura, que produziam efeitos visuais (fusão, tridimensionalidade) através de iluminação controlada no verso destes painéis.
Niépce e Daguerre durante algum tempo mantiveram correspondência sobre seus trabalhos. Em 1829 firmaram uma sociedade com o propósito de aperfeiçoar a heliografia, compartilhando seus conhecimentos secretos.
A sociedade não deu certo. Daguerre, ao perceber as grandes limitações do betume da Judéia, decidiu prosseguir sozinho nas pesquisas com a prata halógena. Suas experiências consistiam em expor, na câmera escura, placas de cobre recobertas com prata polida e sensibilizadas sobre o vapor de iodo, formando uma capa de iodeto de prata sensível à luz.
Dois anos após a morte de Niépce, Daguerre descobriu que uma imagem quase invisível, latente, podia-se revelar com o vapor de mercúrio, reduzindo-se, assim, de horas para minutos o tempo de exposição. Conta a história que uma noite Daguerre guardou uma placa sub-exposta dentro de um armário, onde havia um termômetro de mercúrio que havia se quebrado. Ao amanhecer, abrindo o armário, Daguerre constatou que a placa havia adquirido uma imagem de densidade bastante satisfatória, tornara-se visível. Em todas as áreas atingidas pela luz, o mercúrio criara um amálgama de grande brilho, formando as áreas claras da imagem. Após a revelação, agora controlada, Daguerre submetia a placa com a imagem a um banho fixador, para dissolver os halogenetos de prata não revelados, formando as áreas escuras da imagem. Inicialmente foi usado o sal de cozinha, o cloreto de sódio, como elemento fixador, sendo substituído posteriormente por tiossulfato de sódio (hypo) que garantia maior durabilidade à imagem. Este processo foi batizado com o nome de Daguerreotipia.


Esta é a imagem que Daguerre considerava seu primeiro daguerreótipo bem-sucedido.

Em 7 de janeiro de 1839 Daguerre divulgou o seu processo e em 19 de agosto do mesmo ano, na Academia de Ciencias de Paris, tornou o processo acessível ao público. Daguerre também era pintor decorador, e inventou o DIORAMA, um teatro de efeitos de luz de velas.


Em poucos meses Daguerreotipos já estavam sendo realizados na Europa, América e nos mais recônditos lugares do mundo.
A grande popularidade da qual gozou a Daguerreotipia foi o resultado deste ser o primeiro processo  prático de fotografar. As imagens eram de um detalhe e perfeição surpreendentes. Mesmo assim, devido às dificuldades do processo já mencionadas, os primeiros Daguerreotipos sofriam de severas limitações temáticas (eram de prédios, monumentos, natureza mortas e cenas de rua). O retrato era particularmente difícil de executar devido ao fato que os tempos de  exposição eram  muito longos (em excesso de 30 a 45 minutos). Isto requeria uma tremenda paciência por parte dos modelos que precisavam se manter perfeitamente imóveis, frequentemente sustentados por  armações de ferro durante os longos tempos de exposição. É por isto que em algumas das daguerreotipias mais antigas não se pode distinguir se a pessoa retratada está de olhos abertos ou não. Estes tempos de exposição foram rápida e progressivamente sendo reduzidos na medida em que a técnica ia sendo aperfeiçoada.  Em menos de  um ano, Godard em Londres, anunciou uma técnica muito mais rápida.Até 1841, o tempo de exposição de uma Daguerreotipia já haviasido reduzido para dez ou quinze segundos!
Diga-se de passagem que uma Daguerreotipia  era essencialmente uma gravura ou melhor uma fotogravura . Cada imagem era uma só chapa de cobre e prata, produzida por um processo bastante lento e caro.  Não havia nesse momento um meio prático de fazer cópias de uma Daguerreotipia. Quem quisesse dois retratos teria que posar igual número de vezes.  Também não era possível a esta altura imprimir uma fotografia numa revista ou num jornal. Os meios de imprensa dependiam ainda do trabalho de desenhistas e gravuristas para ilustrar as suas publicações.


Alguns Daguerreotipos:


 O eclipse solar de 28 de julho de 1851 é a primeira fotografia com a exposição correta de um eclipse solar, utilizando o processo de daguerreotipia.



-L.J.M Daguerre, "Fossils and Shells"
daguerreotype,1839, Musee' National des Techniques C.N.A.M., Paris


-L.J.M Daguerre, "The Louvre from the Left Bank of the Seine"
daguerreotype,1839, Musee' National des Techniques C.N.A.M., Paris





-L.J.M Daguerre, "View of the Boulevard du Temple"
daguerreotype, Paris, 1839, Stadtmuseum, Munich




Fotografia tirada por Daguerre

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A Daguerreotipia se difunde pondo medo nos pintores!

Através do amigo Arago, que era então membro da Câmara de Deputados da França, Daguerre, em 1839, na Academia de Ciências e Belas Artes, descreve minuciosamente seu processo ao mundo em troca de uma pensão estatal. Mas dias antes, por intermédio de um agente, Daguerre requer a patente de seu invento na Inglaterra.
Rapidamente, os grandes centros urbanos da época ficaram repletos de daguerreótipos, a ponto de vários pintores figurativos como Dellaroche, exclamarem com desespero: "a pintura morreu"!
Como sabemos, foi nessa efervescência cultural que foi gerado o Impressionismo.
Uma das características do impressionismo é ser uma pintura instantânea (captar o momento). Os efeitos ópticos descobertos pela pesquisa fotográfica, sobre a composição de cores e a formação de imagens na retina do observador, influenciaram profundamente as técnicas de pintura dos Impressionistas. Eles não mais misturavam as tintas na tela, a fim de obter diferentes cores, mas utilizavam  pinceladas de cores puras que colocadas uma ao lado da outra, são misturadas pelos olhos do observador, durante o processo de formação da imagem.
A descoberta da fotografia, anunciada em 07 jan. 1839 por Louis Daguerre na Academia de Ciências de Paris, mudou os rumos da pintura. A pintura da época precisou reinventar-se para não competir com a fotografia. O novo suporte conseguia realizar as imagens mais próximas da realidade, e então os pintores passaram a investigar outras maneiras de usar a pintura.
Em 1874, no ateliê do fotógrafo Maurice Nadar, uma exposição de jovens pintores apresentou uma nova forma de expressar a realidade por meio da exploração da representação da luz. Monet, Manet, Renoir, Sisley, Degas e Pissarro participaram dessa mostra inaugural do chamado movimento impressionista.
A fotografia apresentava um instante, e a pintura impressionista buscava a síntese do movimento. A representação da incidência da luz era a técnica usada pelo conjunto desses artistas, motivo pelo qual o impressionismo foi apelidado como ´arte da sensação rápida´.
O grupo apresentou divergências entre seus membros, e Edgar Degas (1834 – 1917) foi um dos mais originais. Numa série sobre bailarinas, Degas construiu suas imagens com um olhar fotográfico, mas retratou situações em trânsito, de maneira casual, como se captadas de surpresa, pois sua investigação concentrava-se no estudo do movimento. O movimento, o uso da cor e a incidência da luz foram suas principais marcas. Seu olhar é como de uma câmara fotográfica, porém ele congela e reproduz o movimento das figuras com grande apuro. Não é à toa o seu interesse pela arte fotográfica. Artista de ateliê, ele retratou pessoas comuns, como cantores de cabaré, passadeiras, freqüentadores de bares e bordéis (Folha de S. Paulo, São Paulo, 16 maio 2006, p. E1).
No Jardim das ´Tuileries´, em Paris, Claude Monet fez suas experiências com formas e cores e literalmente inspirou o nascimento do movimento impressionista (`O caderno de viagens de o código de Da Vinci´. Rio de Janeiro: Sextante, 2006).


terça-feira, 11 de outubro de 2011

Baile de Sombras






Em meados de 1895 o famoso pintor impressionista Edgar Degas recebe uma bailarina em seu estúdio e a fotografa em diferentes posturas. O resultado são três placas que o pintor utiliza para realizar distintas composições. Meses depois, Degas encontra a forma de combinar as três placas o que lhe permitiu concluir seu famoso quadro "Bailarinas nos Bastidores."



Não é a primeira vez que Degas aproveitou a técnica fotográfica para suas pinturas. No final do século XIX, o invento de Niépce e Daguerre revolucionou a forma de pintar. O enquadro, o movimento, a luz... O modo de abordar a pintura é subitamente abalada pelo aparecimento das primeiras fotografias. No entanto, a mudança não é apenas na maneira de perceber e traduzir o trabalho. Em seu minucioso trabalho sobre Impressionismo e Fotografia, o professor Antonio González García traz a luz dezenas de exemplos que demonstram que muitas das mais famosas composições impressionistas foram inspiradas por um original fotográfico.
Pintores como Van Gogh, Toulouse Lautrec, Monet ou Gauguin, se serviram das fotografias para seus trabalhos e traduziram suas composições em sua própria linguagem. Apesar de não haver nada de mau nisso, a maioria dos autores ocultaram os originais por medo de que seu uso diminuísse seu trabalho. Um trabalho minucioso de monitoramento finalmente trouxe à luz algumas descobertas surpreendentes:


Paul Gauguin



Paul Cezanne




Toulouse Lautrec



 


Vincent Van Gogh







Edgar Degas

 

 




O retrato de Van Gogh?



No início dos anos 90 um artista chamado Tom Stanford folheando fotos antigas em uma loja de antiguidades e descobriu um daguerreótipo vagamente familiar. Comprou-o por um dólar e levou-o para casa. Uma vez lá, após uma análise minuciosa da fotografia, conclui que era o próprio Vincent Van Gogh muito semelhante a alguns dos mais bem sucedidos de auto-retratos do artista.
A imagem é de 1886, mostra Van Gogh de terno e gravata-borboleta e é assinado pelo  fotógrafo Victor Morin que se dedicou para tirar fotos do clero local, em Bruxelas. Especialistas que analisaram a fotografia imediatamente alegaram que era um retrato do artista e que não havia nenhuma dúvida de que Van Gogh a tinha usado para executar alguns dos seus famosos auto-retratos.
A idéia foi imediatamente negada pelo Museu Van Gogh em Amsterdã. O museu disse que a cada ano recebe mais de 300 fotos e desenhos de pessoas que acreditam ter encontrado bens do artista holandês e este foi mais um.
Mas estudos posteriores que foram realizados pela sobreposição da imagem com alguns retratos de Van Gogh foram conclusivos: O homem na foto é Vincent Van Gogh e a mesma imagem foi utilizada para produzir alguns auto-retratos. Isto é, Van Gogh copiou a foto.







segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A obsessão de Degas


Como explicado pelo professor González García, os progressivos avanços técnicos do meio, o barateamento e o lançamento comercial da câmera Kodak, facilitou que muitos pintores se dedicassem à fotografia como amadores, sem deixar a pintura. E a este respeito Edgar Degas foi um pioneiro por causa de sua obsessão com a fotografia.


 

"Auguste Renoir y Stéphane Mallarmé"
39 x 28,5 cms.

Museu de Arte Moderna de Nova York
A fotografia foi tirada na casa de Julie Manet,
em Dezembro de 1895.

A imagem acima mostra dois de seus amigos, nada menos do que o poeta Stephane Mallarmé e o pintor Auguste Renoir, posando juntos para Degas. No espelho, como um fantasma Velazquez, podemos distinguir Degas e sua câmera, além de esposa e filha de Mallarmé. Como explicado pelo poeta Paul Valery, a fotografia precisou de "nove lampiões a óleo ...e um terrível quarto de hora de imobilidade dos protagonistas."






 Em outubro de 1895, Julie Manet escreveu em seu diário: "Sr. Degas só pensa na fotografia. Convidou-nos todos para jantar com ele na próxima semana e irá nos retratar com luz artificial." Na verdade, Degas tornou-se um verdadeiro perfeccionista na hora de tirar uma fotografia, orientando os convidados a adotar esta ou aquela posição ou olhar para a câmera em uma determinada atitude. "Em tempos como este, - explicou uma testemunha dessas sessões - seus amigos sempre se referiam a ele com terror real. Se for convidado para uma noite, você sabe o que esperar: duas horas de obediência militar".