quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A História da Kodak

George Eastman
Ele deixou a escola, pois fora considerado um estudante "sem muitos talentos" ao ser avaliado pelas normas acadêmicas da época. Pobre e ainda jovem assumiu a responsabilidade de cuidar de sua mãe, viúva, e de suas duas irmãs, uma delas deficiente.
Iniciou sua carreira aos 14 anos de idade como office boy em uma companhia de seguros e depois trabalhou como atendente em um banco local.
Ele era George Eastman, e sua habilidade em superar adversidades financeiras, seu talento em organização e administração, e sua mente inventiva fez dele um empresário bem-sucedido quando ainda em seus 20 anos de idade, capacitando-o para dirigir sua empresa, a Eastman Kodak Company, uma das maiores empresas norte-americanas.
Mas construir uma multinacional e tornar-se um dos industriais mais importantes do país exigiram dedicação e sacrifícios. E isso não foi fácil.



Infância

O mais jovem de três filhos, George Eastman nasceu em 12 de julho de 1854, filho de Maria Kilbourn e George Washington Eastman, no vilarejo de Waterville, a uns 30 quilômetros ao sul de Utica, no estado de Nova York. A casa de Eastman fora a mesma onde seu pai nascera, e nela ele passou parte de sua infância. Hoje, a casa encontra-se no Genesee Country Museum em Mumford, Nova York, nas proximidades de Rochester.
Quando George tinha cinco anos de idade, seu pai mudou-se com a família para Rochester. Lá, o Sr. Eastman devotou sua energia para criar o Eastman Commercial College. Mas aconteceu uma tragédia. O pai de George faleceu, a escola faliu e a família viu-se em grandes dificuldades financeiras.
George continuou a freqüentar a escola até os 14 anos de idade. Então, forçado pelas circunstâncias, teve que começar a trabalhar.
Seu primeiro emprego, como mensageiro em uma companhia de seguros, rendia-lhe US$ 3 por semana. Um ano depois, ele passou a ser office boy em uma outra companhia de seguros. Por sua própria iniciativa, começou a cuidar do arquivo de apólices, e até mesmo a redigi-las. Seu salário passou para US$ 5 por semana.
Mas mesmo com esse aumento de salário, seus rendimentos não eram suficientes para cobrir os gastos da família. Começou então a estudar contabilidade em casa para conseguir um trabalho melhor.
Em 1874, após cinco anos trabalhando em companhias de seguros, ele foi contratado como atendente júnior no Rochester Savings Bank. Seu salário triplicou, passando para mais de US$ 15 por semana.


Os passos de um amador


Quando Eastman estava com 24 anos de idade, planejou uma viagem de férias para Santo Domingo. Quando um colega de trabalho sugeriu que ele registrasse a viagem, Eastman comprou um equipamento fotográfico com toda a parafernália de chapas úmidas que vogavam na época.
A câmera era tão grande quanto um forno de microondas e precisava de um pesado tripé. Ele também precisava de uma tenda para poder passar a emulsão fotográfica nas chapas de vidro para expô-las e revelá-las antes que secassem. Havia ainda químicos, tanques de vidro, pesados suportes de placas e uma jarra de água. Todo o equipamento "era uma carga de mula", como ele mesmo descrevera. E para aprender a fotografar ele gastou US$ 5.
Eastman não fez sua viagem a Santo Domingo. Porém, ficou totalmente absorvido pela fotografia e buscou modos de simplificar todo aquele complicado processo.
Ele leu em revistas inglesas que os fotógrafos estavam fazendo suas próprias emulsões de gelatina. As chapas revestidas com essa emulsão permaneciam sensíveis após a secagem e podiam ser expostas para leitura. Usando uma fórmula tirada de periódicos ingleses, Eastman começou a fazer emulsões de gelatina.
Ele trabalhava no banco durante o dia e fazia seus experimentos à noite, na cozinha de sua mãe. Sua mãe dizia que por vezes Eastman estava tão cansado que nem mesmo conseguia despir-se, e dormia enrolado em um cobertor no chão da cozinha, ao lado do fogão.
Após três anos fazendo seus experimentos em fotografia, Eastman obteve uma fórmula que funcionava. Em 1880, ele não só tinha apenas inventado a fórmula para chapas secas, mas também havia patenteado uma máquina para preparo de chapas em grandes quantidades. Ele rapidamente vislumbrou a possibilidade de fazer chapas secas e vendê-las para outros fotógrafos.


O nascimento da empresa

Em abril de 1880, Eastman alugou o terceiro andar de um prédio na State Street, em Rochester, e começou a fabricar chapas secas para vender. Uma de suas primeiras aquisições foi uma máquina de segunda mão pela qual pagou US$ 125.
"Na verdade, eu precisava de apenas um cavalo de força", disse ele mais tarde. "Aquela máquina tinha dois cavalos de força, mas considerei a possibilidade do negócio crescer. Valia a pena, e então arrisquei."
Conforme sua empresa crescia, enfrentou pelo menos um colapso, quando as chapas secas se deterioraram nas mãos dos distribuidores. Eastman recolheu todas do mercado e as substituiu por chapas novas. "Refazer aquelas chapas consumiu até meu último dólar", disse ele. "Mas o que nos restou foi o mais importante: a nossa reputação."
"Uma idéia brotou em mim gradualmente", disse mais tarde. "O que estávamos fazendo ali não eram meras placas secas, mas sim, estávamos tornando a fotografia algo do dia-a-dia." Ou, como ele descreveu, de forma mais sucinta, estavam tornando a fotografia "tão conveniente quanto um lápis".
Os experimentos de Eastman eram direcionados ao uso de um suporte mais leve e flexível do que vidro. Sua primeira tentativa foi usar papel e revesti-lo com emulsão fotográfica e depois carregar o papel em um suporte de rolo. O suporte era usado nas câmeras em lugar dos suportes para chapas de vidro.
As primeiras propagandas do filme, em 1885, diziam que "em breve, será lançado um novo filme sensível que se mostrará um conveniente e econômico substituto das chapas secas de vidro para trabalhos ao ar livre e em estúdio".
O sistema de fotografia usando suportes de rolos foi sucesso imediato. Contudo, o papel não era totalmente satisfatório ao se trabalhar com emulsões, pois seus grãos eram reproduzidos na fotografia.
A solução de Eastman foi revestir o papel com uma camada de gelatina solúvel e por cima desta uma camada de gelatina não-solúvel sensível à luz. Após a exposição e revelação, a gelatina que trazia a imagem era removida do papel, transferida para uma folha de gelatina transparente e recoberta com colódio – uma solução de celulose que forma uma película firme e flexível.
Conforme aperfeiçoava o filme transparente em rolo e o suporte para rolo, Eastman redirecionou completamente seu trabalho e definiu a base de sucesso de seu negócio em fotografia amadora.
Mais tarde ele disse: "Quando começamos a montar a fotografia em filme, esperávamos que todos os usuários de chapas de vidro mudassem para filmes. Mas nos demos conta de que esse número não era tão alto quanto pensávamos. Para poder aumentar o negócio, tínhamos que atingir o grande público".


Publicidade

A crença de Eastman na importância da propaganda, tanto para a empresa quanto para o público, era total. Os primeiros produtos Kodak foram anunciados nos grandes jornais e periódicos da época, e Eastman redigia suas próprias propagandas.
Eastman criou o slogan "Você aperta o botão, nós fazemos o resto" ao lançar a câmera Kodak em 1888, e em um ano essa frase ficou conhecida por todos. Mais tarde, com agências publicitárias desenvolvendo suas idéias, revistas, jornais, cartazes e outdoors exibiam a marca Kodak.
Participações em exibições em todo o mundo e a "Garota Kodak", com seu sorriso e diferentes estilos de roupas e câmeras a cada ano, conquistaram os fotógrafos em toda parte. Em 1897, a palavra "Kodak" brilhava em um painel luminoso na Trafalgar Square em Londres, um dos primeiros painéis desse tipo usado em publicidade.
Hoje, as propagandas da empresa aparecem em todo o mundo e a marca "Kodak", criada pelo próprio Eastman, é antiga conhecida de praticamente todos.
A palavra "Kodak" foi registrada como marca comercial em 1888. De tempos em tempos, novas especulações eram feitas sobre como o nome fora originado. Mas a verdade é que Eastman simplesmente inventou a palavra do nada.
Ele explicou: "Eu vislumbrei o nome. A letra "K" sempre foi minha favorita – uma letra incisiva. Foi apenas uma questão de combinar algumas letras, sempre começando e terminando com 'K'. E o resultado foi a palavra 'Kodak'". A cor amarela da Kodak, também escolhida por Eastman, é reconhecida em todo o mundo, um dos maiores patrimônios da empresa.
Graças ao gênio criativo de Eastman, hoje, qualquer pessoa pode tirar fotos com o simples pressionar de um botão. Ele fez de todos nós fotógrafos potenciais.


Beneficiando seus colaboradores

Além de seu gênio criativo, Eastman tinha em si qualidades humanas e democráticas, com uma visão marcante de como construir seu negócio. Ele acreditava que os funcionários mereciam algo mais do que salários justos – uma maneira de pensar muito além da visão empresarial de sua época.
Logo no início de seu negócio, Eastman começou a planejar uma forma de colocar "dividendos no salário" de seus funcionários. Sua primeira atitude foi, em 1899, distribuir uma soma substancial de seu próprio dinheiro – um presente – a cada pessoa que trabalhava com ele.
Mais tarde, ele estabeleceu o "Salário Dividendo", em que o empregado recebia benefícios além de seu salário proporcionalmente aos dividendos anuais das ações da empresa. O Salário Dividendo era uma inovação, representando uma grande parte da distribuição dos ganhos líquidos da empresa.
Eastman sentiu que a prosperidade da organização não estava, necessariamente, vinculada a invenções e patentes, mas sim à boa-vontade e lealdade de seus colaboradores, que por sua vez eram beneficiados com a participação nos lucros de seu trabalho.
Em 1919, Eastman deu um terço de suas ações da empresa, na época valendo US$ 10 milhões, a seus funcionários. Mais tarde ele lançou aquilo que, a seu ver, era sua responsabilidade com seus colaboradores: o estabelecimento de programas de aposentadoria, seguro de vida e pecúlio por invalidade. Com esses benefícios e o Salário Dividendo, os funcionários poderiam vislumbrar um futuro mais seguro.
Carl W. Ackerman, biógrafo, escreveu em 1932: "O Sr. Eastman fora um gigante em sua época. Sua filosofia social, a qual empregou ao construir sua empresa, não estava apenas além do pensamento da época, mas permaneceu na vanguarda nos anos que se seguiram, e passarão outros tantos anos até que seja reconhecida e aceita em sua totalidade".


Doando sua fortuna

Eastman é quase tão conhecido por seus atos filantrópicos quanto é conhecido por seu trabalho pioneiro em fotografia. Tanto nesse campo como em outros, ele direcionou seu trabalho com o entusiasmo de um colegial.
Ele começou a doar a instituições sem fins lucrativos quando seu salário era de US$ 60 por semana, oferecendo uma doação de US$ 50 a um estabelecimento recém-formado que lutava para se estabelecer, o Instituto de Mecânica de Rochester, hoje conhecido como Instituto de Tecnologia de Rochester.
Ele admirava também o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (M.I.T.), porque alguns de seus colaboradores haviam estudado ali, os quais se tornaram seus melhores assistentes. Essa admiração, após grandes considerações, traduziu-se em um generoso presente ao M.I.T.: US$ 20 milhões. A doação foi feita anonimamente por alguém de nome "Smith" e, por muitos anos, a identidade do "Sr. Smith" foi especulada e até mesmo mencionada em uma das populares canções do M.I.T.
A área odontológica também era de grande interesse para Eastman. Ele idealizou programas completos e apoio financeiro de US$ 2,5 milhões para os serviços odontológicos de Rochester. Depois, iniciou um programa odontológico preventivo em grande escala para crianças. Os programas odontológicos também foram aplicados em Londres, Paris, Roma, Bruxelas e Estocolmo.
Ao ser questionado por que havia favorecido a área odontológica, ele respondeu: "Os resultados do dinheiro aplicado são maiores do que em outros programas filantrópicos. É fato médico que crianças com boa aparência, boa saúde, dentes fortes e nariz, garganta e boca bem cuidados desde cedo têm mais chances na vida".
Eastman adorava a música e queria que outros desfrutassem de seus prazeres e de suas maravilhas. Assim, criou e subsidiou a Eastman School of Music, um teatro e a orquestra sinfônica. "É relativamente fácil empregar músicos talentosos. Mas é impossível comprar o gosto pela música. Assim, sem pessoas que possam apreciar os prazeres da música por apreciarem a música elas mesmas, qualquer tentativa de desenvolver recursos musicais em qualquer lugar do mundo estará fadada ao insucesso" disse ele. Assim, seu plano seguiu uma fórmula prática para expor o público à música, resultado que se vê em Rochester, que por décadas tem sua própria orquestra filarmônica.
O interesse de Eastman por hospitais e pela área odontológica cresceu ainda mais com seus estudos nesses campos. Ele promoveu e deu vida a um programa para desenvolver uma escola de medicina e hospital na Universidade de Rochester, tornando-se tão proeminente quanto a escola de música da universidade. Rochester está repleta de marcos de Eastman, que contribuíram para o enriquecimento social da comunidade.
Sua preocupação genuína com a educação dos afro-americanos concretizou-se no Instituto de Hampton e no Instituto de Tuskegee. Um dia, em 1924, Eastman assinou uma doação de US$ 30 milhões para a Universidade de Rochester, M.I.T., Hampton e Tuskegee. Quando repouso a caneta na mesa, disse: "Agora me sinto melhor".
Ao explicar as grandes somas doadas, ele disse: "O progresso do mundo depende quase que exclusivamente da educação. Selecionei um número limitado de beneficiados porque desejo cobrir certos tipos de educação e percebi que com os escolhidos eu veria um retorno mais rápido e direto do que se espalhasse o dinheiro aos quatro cantos".
De alguma forma, Eastman fazia com que os beneficiários dessem sua contribuição, de forma que a instituição tivesse segurança para manter-se por si só. Para ele, abundância e prosperidade ofereciam melhores oportunidades para servir.


Horas de lazer

Eastman era uma pessoa reticente e evitava publicidade. É um paradoxo que um homem cujo nome seja considerado sinônimo de fotografia apareça tão pouco em fotos em comparação aos grandes líderes de seu tempo. Ele podia andar pelas ruas de Rochester sem ser reconhecido.
Eastman viveu sua filosofia: "O que fazemos nas nossas horas de trabalho determina o que temos; o que fazemos em nossas horas de lazer determina o que somos". Um concorrente de peso, difícil de abater e prático nos negócios, ele era uma pessoa gentil em casa e com os amigos nos momentos de distração.
Em suas primeiras viagens à Europa, ele visitava metodicamente as galerias de arte, e muitas vezes locomovia-se de bicicleta de um lugar para o outro. Quando pôde adquirir obras de arte, ele já havia aprendido o suficiente para poder dizer: "Eu nunca comprarei um quadro sem antes tê-lo em casa, no meu convívio". O resultado: sua casa transformou-se em uma galeria de arte, com um dos mais belos acervos particulares de arte.


A visão de um pioneiro

Ela era um homem modesto e despretensioso... um inventor, um comerciante, um visionário, um filantrópico... O campeão do envolvimento.
Eastman morreu por suas próprias mãos no dia 14 de março de 1932 aos 77 anos de idade. Atacado por uma desabilidade progressiva resultante do endurecimento das células das vértebras inferiores, Eastman sentiu-se extremamente frustrado pela impossibilidade de manter uma vida ativa e decidiu resolver o problema a seu modo.
"Eastman foi um fator estupendo na educação do mundo moderno", dizia um editorial no jornal New York Times após seu falecimento. "O que ele conquistou com seus talentos inatos, ele devolveu generosamente à raça humana para seu próprio proveito: amparo à música, subsídios ao aprendizado, apoio à pesquisa e ensinamentos científicos, e promoção da saúde e do bem-estar da humanidade, ajudando os menos favorecidos na sua luta em busca de uma vida melhor, transformando sua própria cidade em um centro artístico e glorificando seu país perante o mundo."

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